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Apenas o blog de um cara louco e cheio de ideias, tentando um pouco da sua atenção. Um lugar aonde você encontra assuntos abordados de uma maneira simples, rápida e de fácil compreensão. Está esperando o que para começar a ler?


Fuhrer (Parte 1)



Título: Führer
Gênero: Romance

Sara se esquentava na frente da lareira, encolhida em um cobertor, sua mãe estava na cozinha preparando sopa de repolho para o jantar enquanto seu pai estava perto da janela lendo o livro novo que comprara,  Mein Kampf, um livro que estava sumindo das prateleiras naquela época. Sara ainda não sabia ler, mas pela tamanha concentração que o pai fazia na leitura do livro a fazia pensar que o livro era muito interessante, na capa ela via o rosto de um homem, um tanto quanto estranho, seu olhar era de um cão que caíra da mudança, ele usava um bigode sem as laterais, tinha uma cabeça oval, e sobre ela o seu nome estava escrito em letras estilizadas: Adolf Hitler.
Aquela foi a primeira vez que Sara viu o rosto que mudaria o seu destino para sempre.
Sua mãe Angela a chamou para o jantar, isso era muito contentador para Sara, ela estava com muita fome, ao chegar na cozinha foi recebida com um prato raso de uma rala sopa de repolho.
-O que é isso?- a garotinha perguntou.
-Sopa- a mãe respondeu.
-Mas parece ser ruim, eu não quero!
-Só temos isso Sara, sinto muito.
Para uma menina de seis anos era difícil entender o tamanho do significado da palavra Grande Depressão, Sara só sabia que isso era uma coisa que a fazia comer uma sopa terrível de repolho.
Enquanto Sara meditava sobre o seu ódio ao repolho, seu pai chegou na cozinha, ainda lendo o livro, e sentou-se na mesa sem desgrudar os olhos das páginas. Angela raspou a garganta tentando chamar a atenção do marido, em vão.
-Stephan!- ela chamou.
-O que foi?- disse o homem, sem tirar os olhos do livro.
-Eu gostaria eu você parasse de ler na mesa, é falta de educação.
-O mundo desmorona e ela se preocupa com regras de etiqueta- o homem murmurou.
-Como?
-Nada.
Sara riu baixo por causa da discussão.
-Stephan!- Angela gritou.
-Tudo bem, aqui esta- disse o homem colocando o livro na mesa.
-Queria saber o que de tão interessante tem nesse livro- a esposa falou.
-Ele é simplesmente esclarecedor, Adolf é realmente um gênio, ele com certeza sabe do que está falando.
-E do que ele esta falando?
-Sobre como nós comemos essa sopa de repolho por causa dos judeus.
-Judeus?
-Sim, leia o livro Angela, você vai entender do que estou falando.
O jantar prosseguiu em silêncio, e foi rápido, já que a sopa era muito pouca, Sara cumprimentou o pai e a mãe e foi dormir, enquanto seu pai se recolhia na frente da lareira para continuar a leitura e sua mãe lavava os poucos utensílios sujos.
Stephan tentava se concentrar na leitura quando escutou um choro vindo da cozinha, ele deixou o livro na cadeira - a primeira vez que o largara depois de comprar-, e foi até a cozinha. Ao chegar lá, Stephan encontrou Angela aos prantos.
-Angela o que aconteceu?- o homem perguntou.
-O que não aconteceu seria uma pergunta mais fácil de responder Stephan.
-Como assim?
-Fome, tristeza, dor, a nossa vida é isso?
-Calma, as coisas vão melhorar.
-Vão? De verdade? Então me diga quando por que eu não aguento mais esperar isso acontecer.
A família de Sara, assim como boa parte da Alemanha passavam por um triste momento, a Grande Depressão causou danos terríveis à todos, várias pessoas foram demitidas, a inflação aumentava a cada dia, havia uma sombra de fome e desolação pairando sobre aquela parte do mundo.

***

O pai de Sara a colocou sobre os ombros e gritou:
-Você o está vendo?
-Estou! Estou sim!- a menina gritou.
-E como ele é?
-Que nem na capa do livro.
Stephan levou Sara a um comício de divulgação da plataforma eleitoral de Hitler, várias pessoas tomavam conta das ruas da cidade, todas se empurrando para ver o führer. Sara não entendia o por que de tanta agitação, mas seu pai estava tão animado que ela fazia questão de se animar também.
Foi uma tarde incrível para o partido nazista, as multidões clamavam pelo nome de Hitler, que por sua vez deu um discurso agressivo de como os judeus destruíram seu país, como as mulheres são seres inferiores, como os estrangeiros sujavam o nome da Alemanha e do seu povo.
No fim do comício, Stephan voltou para casa satisfeito, trazendo um sorriso largo no rosto. Ao chegar e casa ele contou nos mínimos detalhes como o führer fez isso e aquilo, e Sara fazia o papel da plateia estérica. Angela assistia aquilo feliz, já que pelo menos uma vez tiveram um momento de alegria, mas no fundo do coração sentia que algo ruim viria daquele estranho líder.
Quando Stephan terminou sua narrativa, Angela se levantou e foi a cozinha preparar comida.
-O que teremos hoje mamãe?- Sara gritou.
-Sopa de repolho- a mulher gritou da cozinha.
-Não!- Stephan falou- Hoje não.
Stephan retirou um dinheiro do bolso e entregou a esposa:
-Vá comprar macarrão, hoje eu estou querendo comida de verdade.
-Stephan, esse dinheiro nos fará falta.
-Não Angela, estou sentindo que logo não fará.
A esposa saiu de casa acompanhada da filha e foram à venda da esquina.
Aquela seria só mais uma compra, mas não, aquele foi o primeiro dia que Sara pousou os olhos sobre Abraham.
Sara estava esperando a mãe do lado de fora da loja quando foi atingida por uma bola na barriga, o que a fez tropeçar e cair no chão. Então um menino, da sua idade veio correndo e a ajudou a se levantar.
-Me desculpe- o menino disse-, eu estava brincando, não foi minha intenção te acertar.
-Tudo bem, eu estou bem.
Sara olhou o menino e se segurou para não rir, ele usava um chapéu preto e um penteado de cabelo engraçado, eram fachos de cabelo das têmporas que desciam pelo rosto como tranças.
-O que aconteceu com seu cabelo?- a menina perguntou.
-Ele é assim mesmo, é por causa da minha religião, eu sou judeu.
-Judeu?- Sara lembrou imediatamente dos insultos de seu pai- o que é isso?
Sara passou todo o tempo conversando com o menino, descobriu que ele se chamava Abraham, que ele vinha de uma família judaica, entre outras coisas. Foi uma amizade daquelas que começam do nada e se torna forte como aço.
A partir daquele dia Sara saía sempre de manhã para brincar com Abraham, sempre sem seu pai notar, pois sabia o quanto ele odiava os judeus. Sara e Abraham tornaram-se amigos inseparáveis.

***

Era setembro de 1930, todos já se preparavam para o inverno, Sara se aquecia na frente da lareira quando Stephan chegou correndo em casa com um jornal entre as mãos.
-Angela! Angela!- ele gritava.
-O que aconteceu?- a mulher disse.
-O partido Nazista venceu.
Sara teve um choque ao escutar aquilo, ela escutara à umas semanas no rádio um grupo de nazistas falando sobre o ódio aos judeus e outras pessoas, ela sabia que algo terrível iria acontecer com Abraham. Sara congelou na frente do fogo, então saiu às escondidas para a rua, foi até a casa de seu amigo, mas ao chegar lá não o encontrou, no lugar de uma enorme casa ficara um monte de cacos, pedras e metais contorcidos, e no meio de tudo uma bandeira vermelha balançava por causa do vento.

Continua...

Obs.: Esse autor não tem, nem teve nenhuma simpatia pelo movimento nazista, as ideias descritas no texto são as que veiculavam na época, e são expostas aqui para se criar a atmosfera que circulava na época.

2 comentários:

  1. Nossa, que dó da Sara, imagino o choque dela ao ver a casa de Abraham destruída. Os conceitos daquela época realmente eram tristes, e Abraham terá muito o que enfrentar, não só ele mas Sara tb, pois essa amizade deve ser aquelas que enfrentam grandes barreiras! Bem Jason, nessa primeira parte, ainda estamos no começo, mas já deu para sentir o drama de Sara e seu amigo, vou estar na expectativa da próxima parte, pois assim como O Clone, esse promete ser tão bom quanto!

    Ah, gostei do novo visul do blog! Ficou ótimo! Bjs e até.

    daimaginacaoaescrita.blogspot.com

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  2. Todo ideologia vicejada no ódio perecerá. Com certeza, o seu conto mostrará o amor vencendo o preconceito. Abçs.

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